Navegando na economia do mar
Construção naval e náutica, portos e transporte marítimo, produção de petróleo, gás e energia, pesca, maricultura, biotecnologia, turismo e meio ambiente são apenas algumas atividades da chamada Economia do Mar.
Um conhecedor íntimo do mar, o navegador Amyr Klink, já disse que o mar não é um obstáculo: é um caminho. Vale para sua convivência solitária de muitos anos e vale também para a economia.
Pode-se definir a Economia do Mar como todas as atividades econômicas que tenham o mar como recurso ou meio, incluindo os setores da indústria, do comércio e serviços, recursos minerais, construção naval e náutica, descomissionamento/desmantelamento de plataformas, portos e transporte marítimo, produção de petróleo, gás e energia, logística de serviços em plataformas, pesca, maricultura, biotecnologia, defesa e segurança, turismo e meio ambiente.
Segundo a OCDE (2016), a Economia do Mar gerou US$ 1,5 trilhão de valor adicionado representando cerca de 2,5% do PIB mundial no ano de 2010. Antes das paradas causadas pela pandemia, esperava-se que dobrasse de valor entre 2010 e 2030, atingindo um valor de US$ 3 trilhões. Estas atividades geraram aproximadamente 31 milhões de empregos diretos em 2010, mas cerca de 600 milhões de pessoas dependem, pelo menos parcialmente, da pesca e da aquicultura – cerca de 8% da população global.
Estima-se que as atividades ligadas ao mar representam aproximadamente 19% do PIB brasileiro, incluindo energia no caso óbvio do petróleo e, com potencial de contribuir de forma relevante para energias renováveis, como nas eólicas offshore que viabilizam a produção de hidrogênio verde. A vida vem em ondas, como o mar, mas também as mensagens de zap que trocamos com outros países que atravessam milhares de quilômetros através de cabos submarinos.
Estima-se que 80% de toda atividade de turismo global é viabilizada pelos oceanos, assim como 90% do comércio global. O turismo náutico abriga eventos esportivos, comerciais, prestação de serviços, indústrias, comércio, construção e manutenção de marinas, equipamentos de navegação, manutenção, limpeza e outros serviços associados às práticas do lazer náutico.
Atualmente, a frota brasileira de embarcações de esporte e lazer é composta por cerca de 814 mil embarcações. Entretanto, o Brasil é ainda um mercado emergente em comparação ao resto do mundo: a relação de barcos por habitante no país é de aproximadamente 1/254, enquanto nos EUA é de 1/23, na França de 1/63, na Inglaterra de 1/66 e na Itália de 1/125.
A economia do mar é diferente da economia em terra em vários pontos que explicam o seu desenvolvimento atrasado (dados OCDE) e a série de preocupações com a exploração mineral no fundo do mar e o meio ambiente:
1 – O mar é muito maior que a superfície em terra
2 – A água é menos transparente que o ar. A tecnologia de sensoriamento remoto não é capaz de operar nas partes mais profundas dos oceanos. As atividades ficam muito mais caras do que na superfície em terra.
3 – O mar é mais tridimensional que a terra. A vida marinha acontece da superfície até o fundo do mar, enquanto só as espécies que voam ficam acima da superfície em terra.
4 – O mar é fluido e interconectado. O que acontece em um lugar pode ter consequência em outro lugar.
5 – As espécies marinhas podem potencialmente viajar distâncias mais longas que as espécies terrestres
6- Agregações ou clusters de animais podem mudar rapidamente de um local para outro
7 – Pode haver um período muito longo em que uma atividade acontece e o seu impacto, prejudicando gerações futuras
8 – Ausência de propriedade e responsabilidade em águas internacionais torna mais difícil o desenvolvimento sustentável do que em terra.
9 – O fato dos humanos não viverem no mar torna mais difícil a fiscalização de cumprimento de leis.
O Rio de Janeiro tem avançado bastante no entendimento e operação dessa economia do mar, inclusive com participação ativa do Sebrae/RJ. O Espírito Santo também tem uma vocação para a economia do mar – interesse inclusive constando do programa de governo do novo mandato do Governador Casagrande – com seus portos, estaleiro, petróleo offshore, economia da praia, competições náuticas, pesca oceânica, polo de importação e exportação, mas poderia avançar muito no turismo que sente a falta de marinas (já vi vários projetos que aparecem e desaparecem), resorts (na belíssima 3 praias em Guarapari também é um mistério) e um cuidado e aproveitamento melhor das suas praias.
É um caminho, não um obstáculo.