IMAGEM: Daniel Teixeira – Estadão/Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo, responsável pelo desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro da Marinha  

A renovação da frota é uma parceria entre o Brasil e a França. O primeiro motor deve entrar em operação até o fim deste ano

No interior de São Paulo, a Marinha prepara os testes do primeiro motor brasileiro movido a energia nuclear, que será instalado em um submarino. A tecnologia foi totalmente desenvolvida no Brasil e faz parte do projeto de renovação da frota de submarinos do país.

É no Centro Tecnológico da Marinha em Iperó, a 125 quilômetros da capital paulista, que está sendo montado o primeiro motor de submarino brasileiro movido a energia nuclear. Trata-se de uma técnica dominada por apenas seis países no mundo: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China e Índia. No Brasil, foi concebida de forma inédita.

Tudo é desenvolvido com muito sigilo. O comandante Luís Cláudio Farina, diretor do Centro Industrial Nuclear de Aramar, explica que é para que se tenha a segurança do projeto e do conhecimento gerado. “O objetivo é que esse conhecimento permaneça na marinha e não seja desviado para outros projetos que não sejam pacíficos como o nosso”, diz.

O jornalismo da Record TV teve acesso à preparação do laboratório de geração nucleoelétrica. É um gigante de aço, igual ao submarino nuclear. Tudo é feito em tamanho real, para que os engenheiros possam simular a operação do reator e fazer as modificações necessárias antes da instalação definitiva.

No centro tecnológico, equipamentos também vão monitorar a radioatividade, que é nociva ao corpo humano. Por isso, esses testes de segurança são fundamentais.

“Seria inadmissível que os testes de desempenho, em condições adversas, fossem processados no mar, porque, se algo der errado, é a vida dos tripulantes que estão lá naquela situação”, diz o comandante Salvador Ramos, vice-diretor do Centro Tecnológico da Marinha.

“Todas as situações de emergência serão testadas e validadas para, depois, termos a planta instalada no submarino, já sabendo como ela se comporta e a nossa capacidade de controlar essa planta nuclear”.

Antes o projeto esbarrava em uma limitação: nenhum país fornece combustível nuclear para essa finalidade. A dificuldade foi superada pelo Centro Nuclear Industrial da Marinha, que hoje domina o enriquecimento de urânio.

Parte da fábrica está em construção e, até 2025, deve entrar em pleno funcionamento. A tecnologia será instalada no último dos cinco submarinos que estão sendo construídos na região metropolitana do Rio.

A renovação da frota é uma parceria entre o Brasil e a França. O primeiro motor deve entrar em operação até o fim deste ano. As entregas vão até 2034.

Em um submarino tradicional, as baterias são carregadas por geradores movidos a diesel, mas a autonomia é de até 45 dias. Já com a energia nuclear, são sete anos. O processo de enriquecimento do urânio é todo desenvolvido no Centro Tecnológico. São 48 megawatts de potência. Isso significa que um reator nuclear de submarino poderia iluminar uma cidade de 20 mil habitantes.

Os submarinos ajudam a garantir a segurança de toda a costa brasileira. Pela chamada “Amazônia Azul” passam 95% do comércio exterior do brasil e a maior parte do petróleo (93%) e gás natural (75%) consumidos no país.

Os engenheiros acreditam que, em um futuro próximo, a tecnologia dos reatores nucleares possa ser utilizada em outras áreas. Tornar a água do mar potável e levar energia elétrica a áreas remotas já estão no radar.

 

FONTE: Poder Naval / Record TV – Pedro Paulo Filho