Foram três deputados estaduais, oito deputados federais, a senadora pelo Tocantins Kátia Abreu (PMDB) e a ex-presidente Dilma Rousseff
A lista suja do trabalho escravo publicada pelo Ministério do Trabalho, no fim do mês passado, exibe o nome de 131 pessoas físicas e empresas acusadas de terem submetido ao menos um empregado a condições análogas à escravidão desde 2005. Quatro empresas e uma pessoa física listadas doaram valores nas eleições de 2014, ajudando a eleger ao menos três deputados estaduais, oito deputados federais, a senadora pelo Tocantins Kátia Abreu (PMDB) e a ex-presidente Dilma Rousseff.
O valor investido pelas empresas, que passa de R$ 7,7 milhões, foi analisado pelo Correio com base nos dados de doações eleitorais disponibilizados pelo Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Do valor, R$ 5,1 milhões ajudaram a eleger políticos, enquanto outros R$ 2,6 milhões foram para candidatos que não alcançaram votos suficientes para conquistar uma vaga.
Duas empresas responderam por 98,5% do total doado: a JBS Aves, braço do grupo J&F, e a Cutrale, gigante do ramo de suco de laranjas. A soma de R$ 7,63 milhões ajudou a eleger deputados estaduais e federais do Rio Grande do Sul ao Piauí, passando pela senadora Kátia Abreu, que recebeu duas doações de R$ 250 mil da Cutrale, e a ex-presidente Dilma Rousseff, que recebeu R$ 3 milhões da mesma empresa.
A Cutrale foi denunciada, em janeiro de 2015, por manter 23 trabalhadores em condições degradantes em uma fazenda da companhia em Comendador Gomes (MG). O dono da companhia, José Luís Cutrale, está na lista dos mil homens mais ricos do mundo, segundo a revista Forbes. Já a JBS Aves, braço do conglomerado dos irmãos Joesley e Wesley Batista, efetuou 12 doações a candidatos ao redor do país, em um investimento de R$ 1,082 milhão. A empresa foi flagrada, em junho de 2015, por expor seis trabalhadores a condições degradantes em Vidal Ramos, na serra catarinense.
Parceria
A maioria dos deputados federais eleitos com doações da Cutrale tem pouca atuação no setor. Um deles, é Nelson Marquezelli (PTB-SP), conhecido como “o deputado das laranjas”. Em 1991, Marquezelli queria, por meio de lei, tornar obrigatória a inclusão de suco de laranja nos cardápios de merenda escolar e em quartéis. “Sou citricultor e fornecedor da Cutrale há 40 anos”, afirmou o deputado, que é dono de laranjais no interior de São Paulo. O parlamentar conta que o valor doado pela companhia, de R$ 200 mil, ocorreu dentro das normas previstas no TSE e lamenta a presença da Cutrale na lista por uma denúncia que considera inepta.
Em nota, a Cutrale ressaltou que trabalha com mais de 21 mil colaboradores, “todos devidamente registrados, recebendo, além dos direitos trabalhistas, benefícios firmados em acordos coletivos de trabalho”. A JBS Aves afirmou ser signatária, desde 2007, do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, reafirmando o compromisso em ações contra o trabalho escravo no Brasil.
Fonte: Correio Braziliense