Distantes desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, nove centrais sindicais se reaproximaram na luta contra as reformas trabalhista e previdenciária e reuniram-se nesta segunda-feira (24)para organizar a paralisação geral marcada para sexta-feira, contra as duas propostas encampadas pelo governo Michel Temer. Pilotos e comissários de bordo ameaçam reforçar a greve e poderão parar às vésperas do feriado de 1º de maio. Em comunicado, o Sindicato Nacional dos Aeronautas afirmou que as categorias entraram em estado de greve nesta segunda, com possível adesão ao movimento a ser decidida em reunião na quinta-feira.
Os protestos terão a participação de parte do setor privado, como dezenas de escolas particulares, e em São Paulo os ônibus e trens do metrô devem ficar sem circular por 24 horas.
A paralisação dos transportes na maior cidade do país é a principal aposta das centrais para intensificar a greve geral. O presidente do sindicato dos motoristas e trabalhadores em transporte rodoviário urbano de São Paulo, José Valdevan de Jesus Santos, o Noventa, afirmou que os ônibus não sairão das garagens na sexta-feira. O Sindicato dos Metroviários afirmou que os trens também ficarão fora de circulação por 24 horas. Na paralisação de 15 de março, contra as reformas trabalhista e previdenciária, os ônibus deixaram de circular entre meia-noite e 8h e o metrô parou por algumas horas da manhã. A reportagem não conseguiu contato com os sindicatos responsáveis pela CPTM.
Escolas particulares de São Paulo têm enviado comunicados aos pais avisando sobre a adesão à greve. Diretora do Sindicato dos Professores de São Paulo, Silvia Celeste Barbara afirmou que pelo menos 110 escolas vão parar. "Somos contra os fundamentos das duas reformas", disse. "Temos um processo bastante grave de mudança na legislação trabalhista. E se o governo quer fazer a reforma da Previdência, primeiro precisa fazer uma eleição presidencial. Esse governo não tem legitimidade", afirmou Silvia, diretora do sindicato que reúne 40 mil docentes da educação básica da rede privada e de 22 mil professores do ensino superior.
Os trabalhadores do porto de Santos vão parar as atividades. O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região afirmou que vai aderir à greve, assim como os sindicatos de metalúrgicos.
As manifestações devem ocorrer depois da votação da reforma trabalhista, prevista para terminar na quinta-feira na Câmara. Dirigentes sindicais, no entanto, afirmaram que o protesto servirá para pressionar o Congresso a alterar o texto, que seguirá para votação no Senado e deverá voltar para a Câmara.
O secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, disse que os protestos serão "um recado para o governo e para o Congresso". "O que está em debate não é uma proposta de reforma trabalhista, mas sim de destruição da legislação trabalhista. Estamos voltando para um período pré-Getúlio Vargas. Não construímos essas conquistas para depois serem retiradas com uma canetada", disse Nobre.
As centrais decidiram não fazer um ato político para marcar as manifestações, como a CUT fez em 15 de março. Os sindicalistas devem falar com a imprensa em frente ao prédio do INSS, em São Paulo.
O presidente da UGT, Ricardo Patah, disse que a luta contra as duas reformas ajudou a reaproximar as centrais. "Houve um distanciamento durante o impeachment, mas voltamos a caminhar juntos", afirmou.
A CUT promete a "maior greve" do país. Já a Força Sindical e a UGT afirmaram que será uma paralisação importante, mas descartam chama-la de "greve geral". "Não acho que vai parar o Brasil", disse o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP). "Temos que negociar essas propostas com o governo. A greve tem que ser para negociar. Não pode ser a greve pela greve", afirmou, depois de reunir-se com as centrais, em São Paulo.
 
Fonte: Valor Econômico