Governo quer incentivar a cabotagem

 Foto: Crédito: Diego Baravelli/MInfra

A pandemia do novo coronavírus deixou algumas das maiores companhias de navegação do mundo com atrasos e acúmulos de remessas crescentes, o que pressionou as cadeias internacionais de fornecimento e ameaça desestabilizar o comércio mundial.

Operadores dizem que o setor de transporte marítimo de contêineres – a espinha dorsal do comércio mundial – está sob forte pressão por causa do impacto combinado sobre os funcionários de casos da doenças, quarentenas e distanciamento social, juntamente com a disparada na demanda do consumidor e transtornos na produção industrial causados pelas quarentenas.

Lars Jensen, principal planejador de serviços da Maersk Line, a maior empresa de transportes marítimos de contêineres do mundo, disse que existe uma “tempestade perfeita”, criada por uma mistura de demanda crescente e sistemas de logística com capacidade reduzida.

“Há congestionamento nos terminais”, disse Jensen, chefe de rede da Maersk Line. “Há falta de motoristas de caminhão porque alguns não estão em condições de dirigir. Especialmente fora da Ásia, observamos que uma parte disso está ligada também ao fato de que muitas empresas estão reabastecendo.”

Como resultado, segundo Jensen, “a produtividade desacelera”, o que “atrasa mais os navios, e então temos um círculo vicioso”.

Em vários portos importantes, navios estão na fila para poder atracar. Na terça-feira, o Marine Exchange of Southern California, que monitora as condições nos dois portos de contêineres mais movimentados dos Estados Unidos, de Los Angeles e Long Beach, informou que 17 navios porta-contêineres estavam ancorados à espera de pontos de atracação livres. Outros 4 navios deveriam chegar mais tarde naquele dia, enquanto a previsão era de que apenas 3 entrariam no porto.

O porto registrou um volume recorde de importação, de 506.613 contêineres em outubro – os últimos números disponíveis –, quase um terço a mais do que no mesmo período do ano passado.

Como reação, as companhias de navegação têm cancelado pedidos e desviado navios.

Cingapura, o segundo maior centro de contêineres do mundo, viu sua taxa de rolagem – a proporção de carga que entra em um porto em um navio diferente do que estava originalmente previsto – chegar a 31% em outubro, em comparação com 21% no mesmo período do ano passado, de acordo com o provedor de dados Ocean Insights.

“Toda a cadeia de fornecimento está sob pressão”, disse Rolf Habben Jansen, executivo-chefe da Hapag-Lloyd, outra das maiores empresas de transporte de contêineres do mundo. “A situação do mercado é excepcional.”

Ele acrescentou que surtos de covid-19 podem prejudicar a produtividade de um terminal portuário rapidamente, ao obrigar um grande número de funcionários a se isolarem.

“Tivemos exemplos disso, como um porto em que 600 trabalhadores portuários foram postos em quarentena... [Mesmo] que aquele porto estivesse na sua melhor forma, em uma semana teríamos 10 navios lutando para chegar ao lado [do cais do terminal]”, disse.

A CMA-CGM, a quarta maior companhia de navegação do mundo, anunciou na semana passada que não aceitaria novas encomendas até a última semana de dezembro, a fim de “esperançosamente, nos colocarmos em uma situação melhor para janeiro”.

Mas Philip Edge, executivo-chefe da despachante de cargas do Reino Unido Edge Worldwide, disse que o adiamento de encomendas “só agravaria o problema” e levaria a tarifas de frete ainda mais altas depois.

A pressão tem aumentado desde o início da pandemia. Quando o vírus começou a se espalhar e o comércio mundial se contraiu a um ritmo sem precedentes, as companhias de navegação cancelaram centenas de viagens. Como o comércio se recuperou nos últimos meses, a demanda por produtos enviados da Ásia cresceu e as companhias agora operam muito perto de sua capacidade total.

Desde meados do ano, o boom no comércio eletrônico impulsionado pela pandemia contribuiu para dobrar as taxas de movimentação de contêineres, conforme medido pelo Índice de Cargas em Contêineres de Xangai. As taxas da Ásia para a costa oeste dos EUA, em especial, dispararam nos últimos meses e estão em níveis recordes.

Embora a Hapag-Lloyd tenha aumentado sua capacidade em mais de um quarto de milhão de contêineres este ano, Habben Jansen disse que os transtornos relacionados à pandemia persistem: “Tivemos caixas demais nos lugares errados por causa dos distúrbios no início do ano.”

Fonte: Valor