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IMAGEM: Jonathan Bachman/Getty Images

Dezenas de milhares de empregados estão frustrados porque patrões não dividem lucros

 

​Exaustos depois de trabalharem longas horas durante a pandemia, e frustrados porque seus patrões não dividem os lucros, às vezes enormes, dezenas de milhares de enfermeiros, empregados de fábricas e outros trabalhadores americanos declararam greve em todo o país.

Cerca de 30 mil funcionários do grupo de saúde Kaiser Permanente nos estados da Califórnia e Oregon estão prontos para entrar em greve. Desde a última quinta-feira, 10 mil empregados da empresa de máquinas agrícolas John Deere estão de braços cruzados, enquanto 1.400 trabalhadores abandonaram seus postos na empresa de cereais Kellogg's em 5 de outubro. E mais de 2.000 funcionários do Mercy Hospital, em Buffalo, Nova York, entraram em greve em 1º de outubro.

Em Hollywood, evitou-se na última hora um movimento que ameaçava paralisar a partir desta segunda-feira (18) a indústria cinematográfica, graças a um acordo sobre as condições de trabalho dos funcionários técnicos, anunciou neste domingo o principal sindicato do setor. 

Para além desse acordo, a onda repentina de conflitos trabalhistas deste mês levou alguns a cunhar a palavra "striketober" (junção das palavras "greve" e "outubro"), neologismo adotado nas redes sociais até mesmo pela deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez.

SACRIFÍCIOS DA PANDEMIA

Os trabalhadores argumentam que, durante a pandemia, tiveram uma carga adicional para compensar o trabalho dos que ficaram em casa. "Sacrificamos tempo com nossas famílias, perdemos jogos de bola com nossos filhos e jantares e casamentos para manter as caixas de cereais nas prateleiras", declarou Dan Osborn, mecânico da Kellogg's por 18 anos.

"É assim que nos pagam? Pedindo que façamos concessões no momento em que o CEO e os executivos aumentam sua remuneração?", criticou Osborn, presidente de uma filial local do sindicato dos Padeiros, Confeiteiros e Trabalhadores do Tabaco e Moinhos de Grãos (BCTGM). Ele se opõe ao sistema de pagamento de dois níveis, que deixa alguns novos contratados ganhando muito menos do que os demais.

"Não estamos pedindo aumento salarial", assinalou Osborn, explicando que os funcionários se opõem a que alguns trabalhadores ganhem menos para desempenhar a mesma tarefa, e que sejam retirados os reajustes salariais automáticos pela inflação. "A greve irá durar o tempo que for necessário", afirmou.

SUCESSO CONTAGIANTE

A maioria das greves é motivada por demandas de melhores condições de trabalho, disse Kate Bronfenbrenner, especialista em questões trabalhistas e sindicais da Universidade de Cornell, em Nova York. "As empresas estão lucrando mais do que nunca e os trabalhadores estão sendo pressionados a trabalhar mais duro do que nunca, às vezes arriscando suas vidas para voltar ao trabalho no contexto da Covid."

É difícil saber o número exato de greves em andamento, uma vez que o governo acompanha apenas as que afetam mais de mil empregados. "Mas quanto mais greves têm sucesso, mais greves continuam, porque os trabalhadores começam a acreditar que realmente podem conquistar algo, e estão dispostos a correr o risco de não serem pagos, de perder o emprego", destacou Josh Murray, professor de sociologia da Universidade Vanderbilt.

A greve da Kellogg's seguiu a paralisação em julho de 600 operários da Frito-Lay, subsidiária da PepsiCo, no Kansas. O movimento, que durou 19 dias, resultou em folgas semanais e aumentos de salário. E após uma greve de cinco semanas de 1.000 funcionários da Nabisco, subsidiária da gigante Mondelez International, a empresa abandonou o plano de pagamento de dois níveis.

MOVIMENTOS SOCIAIS

Para muitos trabalhadores, a pandemia foi um momento de empoderamento. "Alguns funcionários começaram a ver que 'Nossa, na verdade somos essenciais, a economia não funciona sem nós'", explicou Murray.

Os sindicatos também se beneficiaram nos últimos anos com o crescimento de movimentos sociais com interesses semelhantes, como quando um sindicato de trabalhadores hoteleiros do Arizona se aliou a grupos de imigrantes. Mas o professor não espera que as empresas se rendam facilmente. "Eventualmente, haverá uma reação. O negócio das corporações não é presentear ou permitir que os custos trabalhistas aumentem."

 

FONTE: FOLHA DE S.PAULO