Principais indicadores decepcionam. Economistas revisam previsões.
Após uma série de indicadores revelar a fraqueza da recuperação econômica, o mercado já começa a refazer suas projeções para o desempenho das atividades. Os resultados da indústria, varejo, serviços e da própria prévia do PIB (Produto Interno Bruto) decepcionaram no início do ano e colocaram em xeque a consistência da retomada.
O relatório Focus divulgado pelo Banco Central nesta 2ª feira (16.abr.2018) revisou para baixo tanto as expectativas de PIB quanto as projeções de inflação para 2018.
No início de março, no auge do seu otimismo, o mercado projetava 1 crescimento na casa dos 2,9% para o ano. Na projeção atual, a alta ronda os 2,76%.
Para a inflação, o cenário indica queda ainda mais intensa nas expectativas. O resultado anual de 3,79% esperado no início de janeiro deu espaço para os 3,70% apurados no começo de março. Agora, é estimado em 3,48%, cada vez mais distante do centro da meta estabelecida pelo governo, de 4,5% ao ano, e mais próximo do piso, de 3%.
A baixa inflação, apesar de vista como positiva, pode indicar a estagnação da economia, com baixos níveis de confiança, de consumo das famílias e de investimento das empresas.
FRAQUEZA GENERALIZADA
Os resultados econômicos divulgados em abril não contribuíram para a melhora do cenário base. Dados do IBGE divulgados no começo do mês mostraram que a produção industrial brasileira cresceu 0,2% em fevereiro em relação a janeiro, número abaixo das expectativas de analistas, que projetavam crescimento mensal de 0,42%, na média.
No varejo, o volume de vendas subiu 1,3% em fevereiro na comparação com o mesmo mês de 2017. Apesar de marcar o 11º resultado positivo consecutivo, os dados foram os mais fracos nesse período. As projeções de economistas variavam de 2,3% a 3,7%.
Dentre os principais indicadores da economia, o que apura o volume no setor de serviços foi o que apresentou os piores dados. Com 1 novo recuo em fevereiro, de 2,2% ante igual mês de 2017, o setor registra queda de 2,4% nos últimos 12 meses.
MOMENTO DE INCERTEZA
Apesar de a economia seguir ancorada em fundamentos sólidos como o controle da inflação, economistas acreditam que o nível de endividamento das empresas, o ritmo lento de crescimento do emprego parecem podar o processo de retomada sólida.
“A economia ainda está muito alavancada, principalmente por parte das empresas, e isso dificulta a retomada dos investimentos. Do lado do consumo, é preciso considerar que só agora o setor formal começa a dar sinais de recuperação e as famílias começam a recuperar poder de compra“, explica Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.
Para Elcio Takeda, economista-sócio da Pezco, os indicadores fracos refletem também a falta de estímulos econômicos que atuaram no ano passado, como o saque de contas inativas do FGTS e do PIS. “Esses estímulos não estão mais presentes na economia. Isso, somado ao momento de incerteza política, leva a enfraquecimento dos dados econômicos“.
RESPOSTA NO CURTO PRAZO
Takeda levanta 3 fatores que podem impulsionar a economia no curto prazo e ajudar a diluir a decepção com o 1º trimestre. O fator número 1 é a consequência após a prisão do ex-presidente Lula. “Olhando as pesquisas eleitorais atuais, dá-se a impressão de indefinição, mas é possível que nas próximas semanas ocorra uma definição do quadro eleitoral“.
O 2º fator de impulsão é o consumo advindo da Copa do Mundo em maio e junho, o que “pode impulsionar vendas no segmento de televisões ou artigos esportivos“. O 3º seria o atraso na safra de alguns grãos no 1º trimestre, transferindo seus números para o trimestre atual.
Para Rosa, a economia deve começar a ganhar força após o 2º trimestre deste ano. “Há fatores que animam, como a inflação baixa, os juros em patamares extremamente baixos, o mercado de trabalho, que mesmo devagar vai avançando, e a demanda por crédito por parte das famílias, que também aumenta. Esse cenário, entretanto, depende do desenrolar eleitoral, com queda do nível de incerteza“, disse.
Fonte: Poder 360