Depois de três anos de queda, a geração de empregos formais deve voltar a ser positiva no País em 2018. Esse crescimento, no entanto, ainda se dará por meio de vagas que exigem uma qualificação mais baixa – mas que, em geral, são ocupadas por candidatos com nível de escolaridade maior. As empresas estão em busca de profissionais ‘bons e baratos’.
É o que mostra um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), feito a pedido do Estadão/Broadcast. O levantamento traça um perfil das vagas geradas no ano passado. As profissões que mais absorveram empregados em 2017 estavam na atividade industrial e nos serviços. E, em geral, foram funções que exigiam pouca qualificação, como alimentador de linha de produção, faxineiro, atendente de lojas e mercados, embalador a mão, auxiliar de escritório e repositor de mercadorias.
Os candidatos selecionados para essas vagas tinham um perfil bem específico: homens jovens, com até 24 anos de idade, e nível de escolaridade mais elevado, com pelo menos o ensino médio completo.
“As empresas estão com um poder de barganha enorme para escolher o bom e barato. O bom é o qualificado, e o barato é o jovem”, explicou Fabio Bentes, chefe da Divisão Econômica da CNC, responsável pelo levantamento.
Carteira assinada. Quem conseguiu se reposicionar, no entanto, não vê motivos para reclamação. O técnico em mecatrônica Rherison Walter Brandão da Silva, de 29 anos, por exemplo, aproveitou a recuperação da indústria automobilística para retornar ao setor no ano passado. Foi contratado como operador de logística na fábrica da Nissan, em Resende, no lado fluminense do Vale do Paraíba, onde está o polo automotivo do Estado do Rio.
Silva já havia trabalhado, por dois anos, em outra fábrica da região – onde há plantas da PSA Peugeot Citroën e da MAN Latin America. Em 2012, foi demitido, quando a unidade em que trabalhava encerrou o terceiro turno. Desempregado, foi obrigado a trancar a faculdade de administração, na Universidade Estácio de Sá, e procurar trabalho em outra área.
Agora, Silva está otimista na retomada da carreira na indústria. Com o novo emprego, o técnico, que vinha ganhando a vida instalando câmeras de segurança e portões eletrônicos, destrancou a faculdade e vai se formar no fim deste semestre. O salário na Nissan pesou menos do que a perspectiva de crescer na empresa. “Eu ganhava mais, porém, com os benefícios que tenho aqui, acaba que fica a mesma coisa. A questão do futuro influenciou muito”, disse Silva, que também já está fazendo curso de inglês.
Segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é natural que trabalhadores que foram demitidos durante a crise retornem ao mercado em funções menos qualificadas ou com salários mais baixos. “É preciso esperar até que a conjuntura econômica esteja mais favorável para conseguir se recolocar da forma que você deseja”, afirmou Azeredo.
Projeções. Nos últimos três anos, a destruição de empregos com carteira assinada no País foi enorme: 1,5 milhão de vagas a menos em 2015, 1,3 milhão em 2016 e 20 mil no ano passado. Para este ano, a CNC estima que o mercado de trabalho formal registre um saldo positivo de cerca de 600 mil vagas. Mas, segundo Bentes, o padrão de 2017, com foco na baixa qualificação, ainda deverá se manter.
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) também tem perspectivas positivas para o ano: estima que sejam criadas aproximadamente 500 mil vagas com carteira. “Será um ano de recuperação do emprego formal, mas, possivelmente, o aumento será ainda maior nas ocupações informais”, disse Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Ibre/FGV.
No ano passado, de acordo com dados do IBGE, a maior parte das vagas de emprego criadas no Brasil foram no mercado informal.
Fonte: O Estado de S. Paulo