Em um período em que o mercado de trabalho perdeu 3,7 milhões de vagas no país, entre 2014 e 2015, o número de trabalhadores sindicalizados seguiu tendência contrária e cresceu 11,4%, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
Foram 1,9 milhão de pessoas a mais filiadas a sindicatos que no ano anterior. Em 2015, esse contingente somou 18,4 milhões de trabalhadores na semana de referência, apontou o suplemento da Pnad "Aspectos das relações de trabalho e sindicalização", divulgado na última quarta-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Desde 2004, início da série histórica na Pnad, nunca a proporção de sindicalizados no país foi tão grande. Naquele ano, o número de associados era de 15,3 milhões, segundo a pesquisa. De acordo com o levantamento, a proporção de trabalhadores sindicalizados na população ocupada chegou a 19,5% em 2015, ante 16,9% em 2014. Em 2015, havia no país94,4 milhões de trabalhadores de 16 anos ou mais, segundo o IBGE - contingente 3,8% menor que no ano anterior.
Segundo o instituto, de 2009 a 2013, a Pnad registrou queda contínua da proporção de trabalhadores sindicalizados na população ocupada. Em 2014, essa tendência se reverteu e, em 2015, foi atingida a maior proporção desse contingente desde 2014.
Para o coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, a explicação para esse crescimento da sindicalização é simples: os trabalhadores estão buscando maior proteção em um mercado de trabalho em retração. "A própria crise pode ter levado os trabalhadores a procurar proteção e se sindicalizar", afirmou o pesquisador.
Metade dos filiados (50,8%) disseram que se sindicalizaram por acreditar que a entidade defendia os direitos dos trabalhadores.
Segundo informações da Pnad, foram apontados também outros motivos para a filiação: 26,9% achavam que a sindicalização era obrigatória e 20,2% disseram que haviam se filiado por causa dos serviços oferecidos pelo sindicato. Outras justificativas não especificadas pelo IBGE foi relatada por 2,1% dos sindicalizados.
Pouca participação
A filiação sindical cresceu em 2015, mas a participação efetiva no dia a dia do sindicato continuou baixa. A pesquisa apontou que 81,8% dos associados não participavam das atividades promovidas pela entidade representativa e 79,1% não utilizavam os serviços oferecidos pelo sindicato.
Entre os associados que participaram em 2015 de atividades promovidas pelo sindicato, a assembleia era a atividade com maior frequência e 76,8% dos trabalhadores afirmaram que compareciam a essas reuniões. Outros 56,3% participaram de palestras, cursos ou debates e 46,1% de eventos comemorativos. Apenas 33% disseram ir a manifestações e 26,9%, de atividades de lazer ou esportivas promovidas pelas entidades.
De acordo com o IBGE, a proporção de sindicalizados na população ocupada aumentou em todos os grupamentos de atividade de 2014 para 2015. O maior percentual foi registrado em outras atividades industriais, que incluem, por exemplo, extração de carvão mineral, extração de petróleo e eletricidade, com percentual de 36,8% de trabalhadores sindicalizados.
Educação, saúde e serviços sociais (30,2%), agrícola (28,7%) e administração pública (27%) foram as outras três atividades com os maiores percentuais de sindicalizados.
Um quarto não sabe qual é seu sindicato
Pouco mais de um em cada quatro trabalhadores que não estavam sindicalizados em 2015 apontou a falta de conhecimento sobre qual entidade representava sua categoria como justificativa para não ter se associado a um sindicato, revelou a Pnad.
Quase 81% de todos os trabalhadores no país não estiveram sindicalizados em nenhum momento do ano de referência, grupo que somava cerca de 83,1 milhões de pessoas em 2015, diz o IBGE. Ainda de acordo com a pesquisa, 19,5 milhões de trabalhadores estiveram sindicalizados em algum momento do ano de referência.
Para 26,4% dos trabalhadores não associados, o principal motivo foi o desconhecimento do sindicato que representava sua categoria. Outros 11,8% disseram que não sabiam como se filiar às entidades.
Na avaliação do coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, esses dados indicam que os sindicatos se comunicam mal com o seu público e perdem associados simplesmente porque eles não conseguem chegar até a entidade.
Grande parte dos trabalhadores, no entanto, rejeitava os serviços que o sindicato oferecia e, por isso, decidiram não se associar. Para 16,6%, a entidade não representava seus interesses ou eles não acreditavam no sindicato. Outros 23,6% responderam que o sindicato não tinha serviços que os interessavam e, para 7%, a contribuição era cara.
Receio de represália da empresa foi a justificativa usada por 0,3% das pessoas para não se associarem. Cerca de 6,6% estavam sem trabalho ou tinham parado de trabalhar e 7,7% relataram outros motivos para a não sindicalização.
Entre os não associados, 7,1% já tinham em algum momento se sindicalizado.
O IBGE investigou ainda se os trabalhadores não associados a sindicatos costumavam participar de alguma atividade promovida por esse tipo de associação representativa ao longo de 2015: 99,4% dos trabalhadores não associados a sindicatos informaram que não participavam desse tipo de atividade.
 
Fonte: Valor Econômico