Mais de dois milhões de pessoas com idade entre 18 e 24 anos passaram a buscar emprego desde 2017; de acordo com especialistas, crise econômica intensifica desafios vividos nessa faixa etária
 
Mais de um quarto dos jovens que querem trabalhar não encontram emprego. O número de pessoas desocupadas com idade entre 18 e 24 anos já chega a 4,503 milhões, um aumento de 13 pontos percentuais da taxa de desemprego nos últimos três anos.
Assim, a taxa de desemprego entre os jovens chegou a 28,8% no primeiro trimestre deste ano. É o que mostram os números da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) trimestral, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último dia 18.
Segundo especialistas consultados pelo DCI, a crise econômica intensificou os desafios que essa faixa etária enfrenta normalmente: a baixa qualificação e a falta de experiência profissional.
"Temos um problema histórico de evasão escolar antes do final do ensino médio. Durante a recessão, as pessoas não conseguem compensar essa defasagem com alguma experiência profissional, o que acaba diminuindo a chance de elas encontrarem algum emprego", afirma Fernando Holanda, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV).
A perspectiva para os próximos meses também é pouco animadora. De acordo com os entrevistados, a instabilidade gerada pela crise política e os reflexos da recessão devem impedir uma retomada das contratações no curto prazo.
"Era esperada uma melhora do investimento depois da sanção das reformas. Mas, com o governo atual, não há perspectiva de que isso possa acontecer", diz Victor Gomes, professor de economia da Universidade de Brasília (UNB).
Ele destaca as mudanças na legislação trabalhista, discutidas no Senado, como uma forma de aquecer o mercado de trabalho. "Se aprovadas, reduziriam custos e a burocracia, facilitando as contratações."
Entre o primeiro trimestre de 2014 e igual período de 2017, 2,1 milhões de jovens passaram a fazer parte do grupo de desempregados. O crescimento mais expressivo aconteceu neste ano, com a entrada de 500 mil pessoas na fila de emprego, em comparação com os três últimos meses de 2016.
Problema global
Os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que o elevado desemprego entre os jovens é visto em outras partes do planeta, destacando-se nas regiões da Europa que foram mais afetadas pela crise econômica que começou em 2008.
A taxa de desemprego, em 2015, era de 48,3% na Espanha e de 49,8% na Grécia. Ela também superava os 30% na Itália e em Portugal. Nesses países, entretanto, a população tem idade média elevada, com uma quantidade menor de jovens na força de trabalho.
"Aqui a situação é diferente, o que acaba ampliando o nosso problema", avalia Barbosa. Após lembrar que o Brasil passa por seu período de bônus demográfico, com grande número de pessoas em idade para trabalhar, ele alerta para os impactos da recessão. "Milhões de jovens não estão se qualificando ou adquirindo experiência profissional durante a crise econômica, o que pode trazer um resultado bastante negativo no longo prazo."

Dados melhores foram vistos em outros países em desenvolvimento. No ano passado, a taxa de desemprego entre os jovens era de 7,3% no México, de 16,1% no Chile e de 21,4% na Turquia.

Fonte: DCI