No período de outubro a novembro de 2019, os dados indicam queda em importantes segmentos industriais

IMAGEM: AGÊNCIA BRASIL

 

O fechamento da Ford no Brasil, anunciado recentemente e que acaba com mais de 119 mil postos de trabalho e diminui a arrecadação em mais R$ 3 bilhões, no País, fortaleceu a importância do debate de uma política industrial para o desenvolvimento da Nação, com tecnologia e geração de emprego e renda.

Os trabalhadores da indústria querem que o governo de Jair Bolsonaro comece a debater, conjuntamente, saídas para evitar outros fechamentos de fábricas, desemprego e a piora, ainda mais, da economia.

Além da montadora estadunidense, só no ano passado, 5,5 mil fábricas encerraram suas atividades. Nos últimos 5 anos (2015 a 2020), quase 17 estabelecimentos industriais fecharam definitivamente as portas por dia, segundo levantamento da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) feito com exclusividade para o Estadão/Broadcast.

O presidente da IndustriALL-Brasil, Aroaldo Oliveira da Silva, conta que as empresas ao planejar onde irão produzir e se instalar, levam em consideração o crescimento no setor e a política industrial do país. Por isso que é fundamental que o governo federal em conjunto com todos os atores da indústria, inclusive trabalhadores, dialoguem e achem juntos saídas para o País se desenvolver de forma mais justa e equilibrada.

“Além da crise econômica que assombra o País, que começou antes mesmo da pandemia, estamos no meio de uma revolução industrial com novos elementos da tecnologia. O mundo todo está discutindo estas mudanças e o Brasil nem começou. A pauta dos trabalhadores da indústria no Brasil é que o governo comece a discutir uma política industrial com tecnologia e emprego e que envolva os trabalhadores no debate, não só os empresários”, afirma Aroaldo.

Para ele, o País precisa de política industrial que tenha crédito, pesquisa, desenvolvimento, inovação, tecnologia, reconversão industrial e a nacionalização de componentes, peças e máquinas porque o País importa muito. O ideal, é que esta política nacional priorize emprego, trabalho de qualidade e renda e que seja proposta que contemple todo o setor.

“Temos várias pautas e discussões que podemos levantar com o governo federal, mas que não se mostra interessado e nem se importa com a indústria e nem com o trabalhador e os empregos. Ele acabou com os ministérios da Indústria e do Trabalho logo quando assumiu o poder e isso mostra que estes pontos não são prioridades para ele, mas sem governo não há política industrial. Queremos participar do processo de debate para que possamos contribuir com a economia e com os postos de trabalho”, ressalta o dirigente.

O ex-diretor técnico do Dieese e assessor técnico do Fórum das Centrais Sindicais, Clemente Ganz Lúcio, diz que sem uma política que tenha no centro o emprego e a produção nacional, o País regride cada vez mais para ser uma colônia e dependente. Segundo ele, para sair desta condição e avançar é preciso estratégia para economia girar.

“É preciso ter estratégia e construir uma agenda que inclua as várias dimensões do desenvolvimento. A inovação tecnológica amplia empregos nas áreas de serviços e no próprio emprego público, da educação, saúde e segurança. E a geração de empregos e renda melhora a capacidade de consumo e sustenta o crescimento econômico, que é fundamental para o País se tornar competitivo no setor”, diz.

Fim de política de incentivo impacta negativamente nos empregos
A partir de 2012, o País contava com política industrial chamada “Inovar- Auto”, que incentivava as empresas a produzirem e gerarem empregos no Brasil. Criado por Dilma Roussef (PT), o Inovar-Auto, conseguiu fazer a frota brasileira aumentar sua eficiência em 15,4%, acima da meta de 12%, segundo dados AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva).

Pelo Inovar Auto foi possível também impulsionar a nacionalização da produção. Ao todo foram 8 fábricas inauguradas, ao custo de aproximadamente R$ 14 bilhões: Chery, em Jacareí (SP); FCA, em Goiana (PE); Nissan, em Resende (RJ); BMW, em Araquari (SC); Jaguar Land Rover, em Itatiaia (RJ); Hyundai-Caoa, em Anápolis (GO); Mercedes-Benz, em Iracemápolis (SP); e Audi, em São José dos Pinhais (PR)

Depois do golpe em 2016 começou o desmantelamento desta política e seu fim foi decretado em dezembro de 2017 por Michel Temer (MDB-SP). E desde 2018, o País está órfão de uma política industrial que dê conta das diversas frentes que necessita o setor, mesmo com o Rota 2030 instalado no País, em fevereiro daquele ano.

O Rota 2030 não garante postos de trabalho, não estimula a geração de novos empregos e ainda fala de automatização das linhas sem nenhuma contrapartida ou negociação com os trabalhadores. Além disso, diferente do Inovar Auto, o Rota 2030 não prevê nada sobre política de conteúdo local, que é o que garante empregos no Brasil, e ainda dá tratamento igual tanto para as montadoras que produzem no País quanto para as que importam tudo. Segundo trabalhadores da indústria, foi a partir daí que houve uma invasão de importados e os retrocessos no setor começaram.

Reforma Tributária
O fechamento da Ford no Brasil também foi o gancho para que empresários e economistas neoliberais intensificassem o debate sobre uma reforma tributária. Tanto Aroaldo quanto Clemente acham importante uma reforma tributária, mas não a reforma tributária dos empresários. É preciso uma reforma tributária menos desigual, aponta eles.

Aroaldo disse que o Brasil precisa urgente de uma reforma tributária progressiva e que não tribute o consumo e o serviço para pobre pagar mais e que desonera o patrimônio deixando os ricos fora da tributação.

“Deixar na mão dos empresários discutir esta reforma vai persistir a lógica de onerar a vida do trabalhador e desonerar os ricos, persistindo assim todos os problemas. E não é isso que precisamos. A tributação tem que ser progressiva, que reduza as desigualdades, quem ganha mais tem que pagar mais e não quem ganha menos pagar a conta maior”, disse.

Incentivos fiscais importantes
Segundo estimativa da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), entre 2012 e 2018, o setor recebeu investimentos de cerca de R$ 76 bilhões.

Estudo da subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) mostra que o número de trabalhadores nas montadoras saiu de 78,4 mil, em 2002, para 121,6 mil em dezembro de 2014. Entre 2003 e 2014, a produção saltou de 1,6 milhão de veículos para 3,1 milhões.

 

FONTES: PORTAL CUT/DIAP