A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) espera apresentar projeto de implantação do modal hidroviário no Porto de Santos à iniciativa privada em até 60 dias. O objetivo da estatal é começar a utilizar as vias navegáveis para o transporte de cargas para otimizar e aumentar a eficiência das operações do cais ainda neste ano.
O grupo de trabalho responsável pelo estudo definitivo é liderado pela Codesp, e composto pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e pela Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP). Uma resolução será publicada nesta semana, criando a força-tarefa.
O anúncio foi feito pelo Presidente da Docas, José Alex Oliva, para A Tribuna, durante a 23ª edição da Intermodal South America, que ocorreu em São Paulo. Segundo ele, mesmo sem o firmamento dos trâmites burocráticos, os trabalhos já começaram com técnicos do Dnit, que estão percorrendo as vias navegáveis no entorno do Estuário.
“Eles já estão fazendo levantamento batimétrico (profundidade das vias) e vão me apresentar projeto de balizamento (sinalização para limitar as vias navegáveis). Nós disponibilizamos uma lancha para eles, além de estrutura da Codesp”, informou. Segundo ele, a ação é resultado de uma parceria entre órgãos públicos.
O Diretor-Geral da Antaq, Adalberto Tokarski, diz que o órgão precisou “colocar o dedo na ferida para cobrar a utilização das hidrovias na Baixada Santista”. Para ele, a utilização do modal torna-se indispensável para o desenvolvimento do Porto e a redução dos impactos das operações logísticas entre as cidades da região.
“Você pode colocar a carga fora das vias para que ela possa ser transportada por barcaças até os terminais. A Codesp assumiu o grupo e está fazendo as tratativas, mas nós estamos acompanhando para que, ainda neste ano, possamos ter alguma operação”, diz. Para ele, a exploração do modal favorece o crescimento do Porto.
Tokarski avalia que a utilização de hidrovias possibilita que o cais santista cresça para outras regiões, mais internas, eliminando um problema de espaço hoje constatado nas duas margens. Ele refere-se a eventuais terminais, de transbordo ou não, a serem instalados em áreas ainda não exploradas em Santos, em Guarujá e em Cubatão.
O presidente da Docas também vislumbra essa possibilidade. Ele informou que os 60 dias previstos pelo grupo para apresentar o projeto poderão ser prorrogáveis. “Quando estiver com isso na mão, vou botar para a iniciativa privada (viabilizar e operar o serviço). Primeiro vamos trabalhar carga, depois passageiros”, disse, sem dar detalhes.
Modal hidroviário
Um estudo realizado pela Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE), a pedido do Governo Federal, identificou ao menos 180 quilômetros de vias navegáveis que podem ser utilizados para o deslocamento de cargas para o Porto de Santos. Tratam-se de rios e braços de mar que cruzam o Canal do Estuário.
Há dois anos, a Codesp já havia informado que a utilização das hidrovias poderia evitar um trajeto rodoviário de aproximadamente 50 quilômetros para o transporte de contêineres entre terminais das duas margens do cais. Para isso acontecer, é necessária a implantação de uma rota fixa e circular de trocas de carregamentos entre instalações.
Apesar dos contêineres representarem um grande alívio ao tráfego, Oliva e Tokarski acreditam que a unidade da Carbocloro em Cubatão será a primeira a utilizar o serviço. A empresa já apresentou um projeto para transportar 800 mil toneladas de sal por ano nos rios para evitar que 2 mil caminhões trafeguem por 22 quilômetros entre a empresa e o cais, em Santos.
Fonte: José Claudio Pimentel / A Tribuna