Afetado pela crise política, o Brasil continuou afundando em termos de competitividade e aparece na terceira pior posição entre 63 países no Relatório Global de Competitividade Global 2017. Ao mesmo tempo, o país é visto como o segundo mais corrupto entre todos os pesquisados, atrás apenas da Venezuela.
O relatório elaborado pelo IMD, uma das mais reputadas escolas de administração do mundo, sediada em Lausanne, aponta queda pelo quinto ano consecutivo da competitividade do Brasil. A maior economia da América Latina ocupa agora a 61ª posição - enquanto no ano passado estava na 57ª -, e agora fica à frente apenas de Mongólia e da Venezuela.
"A pior classificação é ocupada por países que estão sofrendo turbulências políticas e econômicas", diz o professor Arturo Bris, diretor do relatório. Para ele, era de se esperar que países como a Ucrânia (60º), Brasil (61º) e Venezuela (63º) caíssem no ranking global, diante das notícias sobre questões políticas. "Essas questões estão na raiz da pobre eficiência governamental, que diminui a posição desses países no ranking".
José Caballero, economista-chefe do relatório, acrescenta: "Os perfis dos países mais competitivos no mundo incluem fatores como previsibilidade e estabilidade das políticas dos governos. No caso do Brasil, isso é completamente baixo, e falta visão de futuro".
O IMD faz o ranking usando 260 indicadores, sendo dois terços de dados como emprego, comércio exterior, custo do capital e outros. O outro terço vem de 6.250 respostas a uma sondagem junto a executivos internacionais, para medir a percepção deles sobre questões como corrupção, meio-ambiente e qualidade de vida nos países.
Em termos de eficiência governamental o Brasil aparece na 62ª posição, a segunda pior do ranking global, só atrás também da Venezuela. Um dos componentes desse indicador é "propina e corrupção", com o Brasil também aparecendo como o segundo pior entre os 63 países.
Na verdade, corrupção é uma epidemia na América Latina. Os cinco países vistos no exterior como os que mais têm as práticas de propina são Venezuela (63º), Brasil (62º), Colômbia (61º), Peru (60º) e México (59º).
"Em termos de transparência, o Brasil melhorou, é um país pelo menos tentando corrigir o problema, mas o nível de corrupção alimenta a percepção negativa", diz Caballero.
Apesar desse cenário, o relatório do IMD destaca que os investidores externos continuam levando dinheiro para o Brasil, e o risco financeiro, considerando a imprevisibilidade política no país, está no ranking em 33º, relativamente baixo.
O Brasil registra também um fluxo sustentável de Investimento Direto Estrangeiro (IDE), na comparação internacional. Ou seja, na medida em que a situação política se estabilizar, o potencial de retomada da economia é reconhecido.
Além disso, o país continua aparecendo relativamente bem em termos de eficiência dos negócios (49ª posição). A flexibilidade das empresas, sem entrar em detalhes de como isso ocorre, fica na 10ª posição, globalmente.
Sem surpresa, o desastre na educação brasileira volta a ser destaque na comparação internacional e ajuda a afundar a competitividade da economia do país. O Brasil é oitavo em termos de gastos públicos na educação, mas 62º em qualidade de educação, ou seja, o segundo pior do mundo. "O Brasil gasta muito, mas mal", diz Caballero.
Os países mais competitivos do mundo são os conhecidos de sempre: Hong Kong, Suíça, Cingapura, EUA e Holanda. Esses países mantêm um ambiente amigável aos negócios, que encoraja abertura e produtividade, na avaliação do IMD. A China também melhorou cinco posições, ocupando agora o 18º lugar no ranking geral.
Pela primeira vez, o IMD publica um ranking separado sobre especificamente sobre a competitividade digital. O Brasil fica em 54ª posição. "O problema é a produção de conhecimento e a adaptação a mudanças tecnológicas. O Brasil e a América Latina investem pouco em pesquisa e desenvolvimento e precisam desenvolver e implementar estratégia nacional digital", diz Caballero.
No turbilhão político do Brasil, o IMD avalia que um dos desafios para o país é recuperar a confiança internacional.
Fonte: Valor Econômico