Os aposentados e pensionistas do Grande ABC estão mais endividados neste ano. O volume de contratos de crédito consignado com desconto no benefício do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) cresceu 24,11% em junho, na comparação com igual período de 2016, totalizando 69.821 acordos – no ano passado foram 52.981. Considerando que as sete cidades contam com 325.363 aposentados e 118.708 pensionistas, no total de 444.071 beneficiários, é possível estimar que, a cada seis deles, um possui empréstimo.
Os dados levantados pelo INSS a pedido do Diário referem-se ao total de contratos assinados, portanto, da mesma maneira que um aposentado ou pensionista pode ter mais de um crédito ativo, até comprometer 30% de sua renda, outro pode não ter nenhum.
Se comparada ao sexto mês de 2016, a quantia liberada foi 30,15% maior – saltou de R$ 171,2 milhões para R$ 245,1 milhões, o que dá uma média de R$ 3.511,68 por acordo. Segundo o educador financeiro da DSOP Educação Financeira ABC, Edward Claudio Júnior, este crescimento se deve ao fato de as pessoas estarem muito endividadas. “O volume de dívidas está muito alto, assim como o desemprego. Este valor ainda tende a aumentar até o fim do ano”, avalia.
“Em muitos casos, a pessoa que era o arrimo da família perdeu o emprego, então os aposentados recorrem ao crédito consignado para ajudar um filho ou neto”, observa o diretor de políticas públicas da Associação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas do Grande ABC, Luís Antônio Ferreira Rodrigues. “Por causa da crise, as empresas também dispensaram os aposentados que ainda estavam na ativa, acabando com parte essencial da renda e agravando a situação.”
Rodrigues afirma que outro fator cada vez mais comum e que preocupa é o número de aposentados que abrem mão do convênio médico. Para se ter ideia, o valor médio do benefício do INSS na região é de R$ 1.800, enquanto que a mensalidade de um plano de saúde oscila entre R$ 500 e R$ 1.000 para o casal. “Ou o aposentado come ou paga o convênio. Por isso muitas vezes ele recorre ao empréstimo consignado”, lamenta.
A modalidade é alternativa para trocar dívida com juros mais altos, a exemplo do cartão de crédito, que possui juros médios de 13,34% ao mês, conforme dados da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Já o custo mensal do consignado varia de 2,1% a 3%, diz o educador.
Entretanto, Claudio Júnior lembra que cada situação deve ser avaliada individualmente. “Os juros são menores, mas engessam”, pondera. Em outros casos, como o do cheque especial, em que o juros médios chegam a 12,29% ao mês, ele aponta que vale a pena ficar negativado enquanto junta dinheiro para negociar o pagamento da dívida à vista. “Com o valor à mão, o poder de barganha é maior.”
O especialista alerta que é imprescindível emprestar só o valor necessário. “Às vezes, o banco libera quantia maior do que a pessoa realmente necessita. Se precisar de R$ 1.000, não pegue R$ 3.000”. Ele também ressalta que, uma vez assinado o contrato, não é possível voltar atrás.
Vale lembrar que o consignado permite comprometer até 30% do salário, porém, é possível tomar 5% a mais para cobrir gastos no cartão de crédito. Neste caso, se a pessoa não pagar o valor mínimo da fatura, ele será descontado da aposentadoria ou pensão.
PLANEJAMENTO - Claudio Júnior afirma que, ao planejar o orçamento, os efeitos da crise serão menores. “Se a pessoa começar a ter uma renda menor, é preciso diminuir as contas. Vale a pena ajustar os gastos nem que seja provisoriamente, até o cenário melhorar. Se puder complementar a renda, melhor.”
Todavia, Rodrigues relata que há situações em que os aposentados ou pensionistas chegam a pegar um empréstimo seguido do outro. O educador financeiro não considera a prática saudável e ressalta que não é o ideal recorrer ao consignado sem repensar os hábitos financeiros, pois as dívidas podem se transformar em uma ‘bola de neve’. “É necessário fazer as contas e verificar se a parcela do empréstimo caberá no orçamento, uma vez que ela será descontada diretamente da folha de pagamento”, diz. “É preciso ter atenção, para que não fique sem condições de arcar com o mínimo necessário para viver.”
INSS inicia pente-fino em aposentadorias por invalidez
Os aposentados por invalidez do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) que não fazem perícia há mais de dois anos são os alvos da nova fase do programa de revisão dos benefícios por incapacidade, mais conhecido como pente-fino. A entidade deverá utilizar o mesmo sistema na revisão da aposentadoria por invalidez que foi utilizado no auxílio-doença.
Desde o início do mês, o governo federal já enviou 22.057 cartas de convocação. Depois da notificação, os beneficiários terão cinco dias úteis para agendar a perícia pelo telefone 135 da Previdência Social.
As datas marcadas para a perícia devem ser rigorosamente respeitadas. Caso o beneficiário não possa comparecer na data e horário marcados, um representante deverá ser enviado. Ele deverá estar munido de procuração com firma reconhecida em cartório para justificar o motivo da ausência e fazer novo agendamento.
Caso a falta não seja justificada, o segurado terá o benefício suspenso até que a nova perícia seja feita e comprove que a pessoa está incapacitada para o trabalho. Os únicos isentos do pente-fino são os aposentados com idade superior a 60 anos.
Até dezembro de 2018, a meta é que 1.004.886 de aposentadorias por incapacidade sejam revisadas, sendo 227.506 apenas em São Paulo. De acordo com os últimos dados divulgados pelo governo federal, desde o ano passado foram revisados mais de 200 mil auxílios-doença em todo o País. Até o dia 14 de julho, o INSS cancelou 180 mil benefícios. Assim, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social, será possível economizar R$ 2,6 bilhões por ano.
Fonte: Diário do Grane ABC